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Um conto de Taavi


Durante a noite uma névoa dominara a paisagem, coroando a lua com um círculo colorido. Taavi praguejou baixo por ter certeza de que a neblina traria um céu incomodamente azul no dia seguinte. Tamanha foi sua surpresa quando viu o dia surgir através de um teto cinzento.
E conforme a manhã avançou, o que era cinza se tornou mais escuro, como se a noite estivesse voltando. Taavi caminhava calmamente, ouvindo os próprios passos nas pedras da estrada, sentindo o perfume das folhas derrubadas pelo outono e da grama lavada pelo orvalho. Sentia dentro de si a ira que não conseguia dominar, mas percebeu que tudo se acalmava num silêncio agradável quando ele olhava para o céu cada vez mais escuro, sentindo o vento gelado no rosto, e os perfumes da manhã invadindo seus pulmões.
Decidiu que aquela manhã era um presente dos deuses. Era a forma que eles tinham de dizer-lhe que eles não tinham se esquecido dele. E para confirmar tal pensamento, folhas se soltaram das árvores que cobriam seu caminho e caíram lentamente em direção a seu rosto. O toque leve em seu rosto foi como um carinho divino.
E quando as árvores ficaram para trás Taavi vislumbrou diante de si a longa estrada que cortava a planície como uma cicatriz longa e fina. As primeiras gotas de chuva caíram-lhe na face, e o brilho de um relâmpago surgiu ao longe. Logo veio o som do trovão, como voz de dragão cortando o silêncio da natureza, vibrando no céu, trazendo aos mortais uma sensação de pequenez. "O som do trovão está entre as mais belas vozes do universo..."
A chuva ficou mais forte, e Taavi interrompeu sua caminhada para sentir a água cair sobre seu corpo, lavando sua alma. Sorriu ao pensar que a maioria das pessoas corre da chuva, temendo se molhar.
Sua vida continuava esburacada e lamacenta, como aquela estrada precária, mas naquela manhã Taavi se sentiu abençoado. Podia não estar feliz, mas a manhã cinza e perfumada era como um afago após a tortura.
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Marlon Weasdor, 22/05/2013

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