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A morte do poeta

ortega

Renasce pelas palavras aquilo que,
num dia quente e distante,
surgiu pelo lápis, riscando papel,
num ritual longo e hipnótico,
para formar um desenho nostálgico,
puro, simples, longe na imaginação.

Imaginação infantil, desejosa,
ansiosa por coisas que nunca viveu
e talvez nunca viverá, ou talvez,
viveu em vidas distantes,
como o Dragão que tanto grita
querendo voar para sempre.

Dragão que urra eternamente,
trancado numa caverna profunda,
antro claustrofóbico que o sufoca
e o pobre ser só pode gritar
no escuro aconchegante
que ele nunca desejou.

Escuro este que dizem ser bom,
o escuro da resiliência,
o escuro que omite as palavras,
esconde o poeta sem temer,
sem pensar no que ele pode fazer,
sem perceber que ele morre.

O poeta morre quando não tem sentimentos,
pois ele não é feito de palavras
é feitos de dores e alegrias,
escuro e claro, morte e vida,
uma obra barroca perfeita
empoeirada nos corredores do tempo.

E quando o poeta morre não há mais gestos,
palavras, sentimentos, lápis, papel,
tinta, tela, paisagem, retrato, escultura.
Quando ele morre, a caverna desmorona
e soterra o Dragão solitário,
que lá jazia preso sem poder se proteger.

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Marlon Weasdor, 21/10/2012

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