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Confissões Noturnas - Parte I

Aqui está a primeira parte do conto Confissões Noturnas.
Este conto será apresentado em três ou quatro partes. Trata-se de um conto de Terror, Suspense, ou algo parecido. No fim das contas é apenas um estória. Fiquem a vontade para comentar, opinar, divulgar...

Confissões Noturnas - Parte I
Confissões Noturnas - Parte II
Confissões Noturnas - Parte III
Confissões Noturnas - Parte IV


O merceeiro acabara de limpar o balcão. Mais um dia de trabalho terminava, tudo em ordem, e silêncio completo. Nestes dias escuros ninguém ficava fora de casa depois do anoitecer. Bastava fechar a porta, e poderia ir para o andar de cima, onde vivia com sua família.
Rotina.

Um vento repentino fez a poeira da rua subir, rodopiando, e a placa com o nome do estabelecimento rangeu, e um frio súbito envolveu a atmosfera do lugar.
Ele estranhou, mas deu de ombros. Tanta coisa ruim andava acontecendo, nada mais o espantava.

Largou o pano sujo no canto, e caminhou em direção à porta. O vento lá fora assobiou, o frio aumentou. Trancou a porta.
Mal havia dado as costas para a porta, alguém agitou a aldrava.

- Já fechamos!
- Mas senhor, não vê que aqui fora faz um frio impiedoso?
- Eu sei, mas já fechamos.
- Mas eu caminhei por muitas horas, estou muito cansado, e não tenho aonde ir.

O merceeiro pensou. Ainda tinha um quarto para alugar, o estranho poderia se acomodar por lá.

- E então senhor? Vai me deixar entrar para me aquecer, ou vai me deixar perecer no frio da rua?
- Tudo bem, tudo bem!

Ele destrancou a porta e abriu. Os gonzos rangeram, e o tempo pareceu congelar com o frio que invadiu a estalagem.

O estranho lá estava. Roupas de nobre, mas muito puídas e empoeiradas. Botas enlameadas. Mas nada além disso. Nada de espada, nem bolsa, bagagem...
E os olhos do merceeiro pousaram em seu rosto. Pele tão clara que beirava o branco da Lua, e seus olhos eram ornados com olheiras profundas e muito escuras. Dir-se-ia que o estranho não dormia há meses. Tão magro que os ossos da face se destacavam sob a pele. Nariz grande, longo e curvo. Aparentando contar não menos que 50 primaveras, o estranho aparentava péssimo estado, e parecia estar seriamente debilitado.

- Tens em seu estabelecimento algum lugar em que um miserável possa pernoitar?

Um arrepio sinistro subiu pela espinha do merceeiro, e o frio cresceu, como se estivessem em pleno inverno.
Sem pensar muito ele concordou.

O estranho se inclinou em mesura. A expressão em seu rosto era uma mistura sinistra de dor, ódio e sofrimento.
O merceeiro fechou a porta, mas o frio continuou.

- Não tens bagagem, senhor?
- Perdi tudo o que tinha há muito tempo atrás. Só o que me sobrou foram estas roupas velhas, e as dores no corpo.
E vendo a expressão desconfiada no rosto do merceeiro, emendou:
- Mas não se preocupe, pois dinheiro eu tenho, e posso pagar pelo pernoite.

Ainda desconfiado, o velho foi até o aposento dos fundos. Voltou pouco tempo depois, com uma garrafa de vinho e duas canecas. Agora vestia um casaco, pois o frio persistia. Encheu as duas canecas, ofereceu uma ao estranho e o convidou a sentar-se.

- E então - começou o velho - De onde vens?
- De muito longe, do Sul, além da cordilheira que divide o continente.
- Muito longe mesmo, senhor. Nunca conheci ninguém de lugares tão distantes. E o que o trás até aqui?
- Dificuldades. Eu tenho sido perseguido.
- Perseguido? Por quem?
- Por inimigos terríveis! Venho fugindo deles há muitos anos.
- E o que fizeste para que tais inimigos o persigam com tanta persistência?

O homem olhou para o fogo, e bebericou o vinho. Pigarreou.

- Teria que contar ao senhor a história de minha vida, para poder responder à sua pergunta.
- Me desculpe a indelicadeza, meu senhor, não quis parecer indiscreto. Apenas senti curiosidade, afinal o senhor parece estar um tanto cansado.

O ar pareceu um tanto mais gélido. A expressão estampada no rosto do estranho era de profundo ressentimento.

- De maneira alguma. Fazer perguntas é direito seu. Afinal eu sei que minha aparência inspira dúvidas e desconfiança.
- Não é desconfiança, apenas curiosidade.
- Sim, entendo.

Mais um gole de vinho, e depois de um instante de silêncio, o homem olhou nos olhos do merceeiro. Este sentiu um estranho medo, misturado a um inexplicável interesse.

- Não há nada temer, meu senhor. Sou agora alguém melhor do que já fui. Mas ninguém percebe isso. Eles não percebem...

O estranho parecia bastante perturbado.

- Meu nome é Thanatos, e sou perseguido por ser um assassino.

Continua.

Comentários

  1. Aaai God, o que será que acontece depois???

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  2. barbaridade tchê! caro M W você escreve coisas maravilhosas, tem estilo. gostei muito. ja estou t seguindo e quero novidades hein! um grande abraço e valeu pela sua participação lá na Sociedade dos Poetas Mortos.

    Kleber J G Martins

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  3. Olá, Kleber!
    Muito obrigado pelo comentário!

    Fique pela Caverna e sempre verá alguma novidade!

    Estarei sempre de olho nos textos da Sociedade.

    Até mais!

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  4. Wooow, gostei muitíssimo da primeira parte! Continuarei lendo :D

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  5. Passe pela caverna e entrei na mercearia-hospedagem e estou acompanhando o texto. Instigante!
    Grande abraço.

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  6. Muito obrigado, Expedito!
    Apareça sempre pela caverna!

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