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Tarde de sábado


Inverno impiedoso.
No Norte, o Inverno é cruel.
E aquele ano não poderia ser diferente.
Lá fora o vento rugia e assobiava, frenético e furioso.
Plena tarde, mas a luz era fraca, pois o Sol havia desistido de lutar contra as nuvens.
Nada inesperado.
Sabíamos que seria assim quando nos mudamos para aquele país.
E mesmo que ela reclame tanto, e seja tão friorenta, ela adora isso aqui.

Naquele sábado estávamos presos em casa.
Tudo perfeitamente limpo e organizado.
Os cães dormiam. O Velho Guille só aguentava o frio rigoroso por causa do aquecedor.
Filme ruim na TV.
Desliguei o aparelho maldito.
E a lareira crepitava. Demo-nos o luxo de viver em uma casa com lareira!
E agora estávamos a sós, na sala tão aconchegante, naquela construção dos anos 50. Só a luz fraca e cinzenta que vinha lá, e a luz avermelhada do fogo.

Roupas leves, a casa era tão quente!
E seu umbigo apareceu.
Beijei!
E depois comecei a cheirar sua barriga, e rimos de como aquilo era gostoso. Simples mas perfeito. Eu fazia aquilo há tantos anos, e ainda tinha a mesma magia!
O cheiro da pele dela é algo viciante!
É um perfume que não consigo parar de inalar até ela falar "Pára! Deixa eu fazer minhas coisas!"
E por fim, enchi de beijos aquele corpo tão cheiroso!

Esqueci tudo, absolutamente tudo! É o que acontece nestes momentos. Minha mente a envolve, e só o que existe é ela, é seu perfume, é sua presença.
Esqueci os planos para o futuro.
Esqueci a Grécia, e o azul do mar.
Esqueci a beleza daquele lugar, e ignorei o fato de a sala ser tão a nossa cara.
Naquele momento só ela existia.

Acredito que isso seja o verdadeiro "viver o momento".
Todo o resto vira um borrão por algumas horas, alguns dias. Momentos em que estamos muito juntos, e só isso importa.

Foi assim aquela tarde.
Na verdade foi assim pelo resto do fim de semana.
Eu tentava morder seus joelhos, por saber que ela detesta isso. Ela revidava com pequenas mordidas e beliscões, e nós ríamos até os olhos marejaram!
Fazia gracejos sobre apetite, e ela respondia com fingida ira "Ah, estou gorda, então? É isso?"

O calor da lareira nos protegia. Sua luz avermelhada nos cobria, nossos corpos se encaixavam tão perfeitamente. Agora eles se encaixam de forma ainda mais exuberante...
Vinhos, capeletti com molho especial. Vinil dos Rolling Stones rodando, charutos e risadas, para finalizar a tarde e fazer da noite uma continuação de um dia perfeito.
Até mesmo o Velho Guille ficou feliz, e não se zangou com o jovem e irritante Hades, sempre tentando morder suas longas orelhas.

Aquele fim de semana foi perfeito.
Mas tudo começou na tarde de sábado.
E foi apenas mais um dos muitos sábados perfeitos que temos em nossa vida.

E lá fora o vento ainda uivava.
O céu ainda estava cinzento, e a neve ainda caía.
Mas nada importava.
Aquele dia era nosso.

Essa vida é nossa.
Somos Um.

25/02/2011.

Comentários

  1. Muitísso bom.
    É realmente muito gratificante olharmos para os dias nublados com uma óptica otimista.
    A vida é muito curta para notarmos os "pequenos erros". Mas eles precisam ser corrigidos. Espero que compreenda-me, meu caro.
    Tudo pode ser perfeito, só depende de nós mesmos.
    A neve e o frio incendeia-nos com o desejo de possuir este calor humano... de sentir amor no íntimo. E você conseguiu expressar isto muito bem!

    Um forte abraço,
    Lucas Neves.

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  2. Obrigado pelo comentário, Lucas.

    Esse lado íntimo e aconchegante do inverno é magnífico.

    Ele ajuda a tornas as coisas um pouco mais humanas e bonitas.

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  3. O calor do amor aquece qualquer inverno e não tem dia cinzento que não ceda à luz que é irradiada pelo fogo do amor.

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